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Divulgação Científica
1. Uso de aplicativo para avaliação da dor no contexto de cirurgias ambulatoriais
A Associação
Francesa de Anestesia Pediátrica e Medicina
Intensiva, localizada em Nice, na França,
produziu um estudo multicêntrico sobre a
utilização de um aplicativo de smartphone
para o acompanhamento da dor pós-cirúrgica
em crianças, em 2021. O principal achado do
estudo foi a percepção de que a ansiedade
pré-operatória, a idade e cirurgias
viscerais são os principais fatores de risco
para uma recuperação mais dolorosa, com
episódios de dor moderada a intensa.
Ao todo, 11
centros participaram da pesquisa e 1.573
pacientes de procedimentos ambulatoriais
eletivos foram recrutados, mas somente 772
participaram ativamente. A duração do
acompanhamento pós-cirúrgico foi de 10 dias,
e consistiu em responder diariamente
questionários avaliando a dor
pós-operatória, através de um aplicativo no
celular dos pais das crianças. A descoberta
mais relevante foi que durante as primeiras
48h após a cirurgia, aproximadamente metade
das crianças tiveram pelo menos um episódio
de dor moderada a intensa, sendo que a
maioria relatou ansiedade pré-operatória no
dia anterior à cirurgia. Além disso,
notou-se que a ansiedade pré-operatória era
maior em crianças mais velhas, e, portanto,
os maiores índices de dor foram entre eles.
Assim sendo, o
artigo explicita a importância do controle
de dor com tratamentos analgésicos ainda no
início dos cuidados pós-operatórios, e ainda
relaciona essa necessidade com a relutância
que os pais possuem de administrar
analgésicos em crianças. O estudo foi
motivado a partir da percepção de que em
pesquisas anteriores, dados relacionados à
ansiedade e à adesão ao analgésico são
raramente avaliados. Em contrapartida, o
artigo apresenta algumas limitações, por
exemplo, o aplicativo foi utilizado por
apenas 49% dos pais recrutados, e a taxa de
participação diminuiu consideravelmente ao
longo do período de acompanhamento.
No contexto
clínico, essas descobertas podem ser
fundamentais para aprimorar o acompanhamento
pós-cirúrgico pediátrico de cirurgias
ambulatoriais eletivas, além de que um
aplicativo de avaliação de dor pode melhorar
a coleta de dados em tempo real e tornar
possível a comunicação imediata com a equipe
médica em casos de complicações mais graves.
Referências:
Walrave Y, Carles M, Evain JN, et al. A
follow-up of pain reported by children
undergoing outpatient surgery using a
smartphone application: AlgoDARPEF
multicenter descriptive prospective study.
Pain. 2022;163(11):2224-2231. doi:10.1097/j.pain.0000000000002620
Alerta
submetido em 23/01/2023 e aceito em
27/01/2023.
Escrito por
Maria Clara Alexandroni Cordova de Sousa.
2. Dor no contexto de pessoas em situações de moradia precária
Pesquisadores da Universidade da Colúmbia
Britânica, localizada no Canadá, realizaram
um estudo prospectivo com observação do
comportamento e hábitos das pessoas
residentes em moradias precárias no país,
com acompanhamento durante 5 anos,
observando a influência do uso de opioides,
bem como fatores variáveis e invariantes no
tempo que poderiam desencadear dores
corporais. Além da possibilidade de ideação
suicida, em diferentes níveis de dor.
Lembrando que um dos grandes desafios dessas
pessoas também é a precariedade e falta de
assistência em saúde, somatizando os fatores
de risco e assim amplificando suas dores.
A partir da metodologia baseada em
estatísticas descritivas de dor, assim como
fatores de risco para o seu desenvolvimento,
se demonstrou que componentes como:
transtorno de estresse pós-traumático,
sintomas depressivos e menor utilização de
opioides de maneira diária, apesar de seu
uso crônico desencadear a sensibilização
central, provocaram exacerbação da dor
corporal, de modo que a intensidade dessa
dor também sinaliza maior risco de
mortalidade na amostra populacional em
estudo. Atrelado a esse desfecho, também se
encontra o envelhecimento, onde os
participantes idosos que possuíam dores
severas em diferentes graus como: baixo,
intermediário e de grande intensidade
apresentaram maior risco de mortalidade,
consequente a menor chance de sobrevivência,
quando em comparação a outras faixas
etárias. E, observou-se também que as dores
eram localizadas principalmente nas
articulações, músculos e região lombar.
Dessa maneira se compreende a necessidade de
intensificar a atenção ao estado de saúde
daqueles que se encontram em situação de
marginalização, tendo em vista o acentuado
sofrimento mental e físico nessa parcela da
população. Entendendo que a realidade de
saúde das pessoas que habitam em moradias
precárias no Canadá demonstra a dependência
do uso de opioides a longo prazo sendo
responsável pela intensificação das dores
corporais, se faz necessária a atuação do
sistema de saúde pública do país, no sentido
de institucionalizar e estimular a
utilização de métodos distintos para o
controle da dor, visando ao aumento da taxa
de sobrevivência e a intensificação do
cuidado no país.
Referência: Jones AA, Cho LL, Kim DD, Barbic
SP, Leonova O, Byford A, Buchanan T,
Vila-Rodriguez F, Procyshyn RM, Lang DJ,
Vertinsky AT, MacEwan GW, Rauscher A,
Panenka WJ, Thornton AE, Barr AM, Campo TS,
Honer WG. Dor, uso de opioides, sintomas
depressivos e mortalidade em adultos vivendo
em moradias precárias ou em situação de rua:
um estudo prospectivo longitudinal. Dor. 1
de novembro de 2022;163(11):2213-2223. doi:
10.1097/j.pain.0000000000002619. Epub 2022
21 de fevereiro. PMID: 35472065.
Alerta
submetido em 20/01/2023 e aceito em
20/01/2023. Escrito por Ana Luiza Martins Costa dos Santos.
3. A psicanálise nos processos de dor e na síndrome da fibromialgia
O estudo realizou uma análise sobre a
relação da síndrome de fibromialgia com
aspectos da dor relacionados ao psicológico,
utilizando conceitos da psicanálise. Foi
analisado que a dor crônica para a
psicanálise pode estar relacionada ao
psicológico, desenvolvendo e piorando
quadros dolorosos. Com o objetivo de
compreender como os processos dolorosos
contribuem para o acometimento de doenças
psicológicas, analisando as múltiplas
facetas da dor, os seus aspectos físicos e
mentais, e considerando que cada pessoa
sente a dor de maneira diferente.
Os processos dolorosos contribuem para o
desenvolvimento de doenças psicológicas como
depressão e ansiedade, por isso indivíduos
com síndrome de fibromialgia necessitam ser
acompanhados por profissionais
especializados em saúde mental e que estudam
o cérebro, como psiquiatras e neurologistas,
que compreendem os processos dolorosos de
patologias relacionadas tanto ao corpo
quanto a mente, o que é chamado de
psicossomática.
Em conclusão, para a psicanálise não existe
diferença entre dor física e dor psíquica. A
compreensão sobre a síndrome de fibromialgia
associada a psicanálise, permite que
pacientes procurem acompanhamento com foco
além da dor física e profissionais validem e
compreendam as experiências dolorosas de
cada paciente.
Referências: Trajano, M. M. C. (2022).
FIBROMIALGIA: ASPECTOS DOLOROSOS E
PSICOSSOMÁTICOS. Revista Ibero-Americana De
Humanidades, Ciências E Educação, 8(4),
633–646. https://doi.org/10.51891/rease.v8i4.4999
Alerta
submetido em 05/12/2022 e aceito em
10/01/2023.
Escrito por Gabriela Martins Ferreira e
por
Giovanna Pereira de Sá Mariano.
4. Uso de opioides no tratamento da dor oncológica
Pesquisadores
da “La Maddalena Cancer Center’’, localizada
em Palermo, Itália, entre os anos de 2020 e
2021, a partir de um escore integrado,
“Maddalena Opioid Switching Score” (MOSS),
conduziram um estudo prospectivo que
verificou a melhora clínica de pacientes
oncológicos em decorrência da troca de
opioides pela ineficácia dos medicamentos
anteriormente utilizados para o tratamento
da dor oncológica, bem como seus efeitos
adversos, tais como dores e distúrbios
cognitivos. Sendo que o opioide metadona se
configura como o medicamento mais utilizado
na realização da troca.
Através da
análise de uma coorte de 106 participantes
com idade maior ou igual a 18 anos que se
encontravam internados em uma unidade de
cuidados paliativos/suporte agudo, foram
coletados dados pertinentes a impressão
global do paciente e à escala de avaliação
de sintomas de Edmonton, sendo
respectivamente integrados ao escore MOSS;
no período em que os indivíduos foram
admitidos e no período em que houve
estabilização quanto ao uso do novo
medicamento, onde todos os participantes
foram devidamente assistidos por uma equipe
de profissionais de saúde que atuavam em
cuidados paliativos. Foram avaliados fatores
físicos e psicológicos desencadeados pelo
uso de opioides, sendo que os sintomas que
apresentaram significância estatística e
traduziram a sua necessidade de troca eram,
por exemplo: constipação, fraqueza,
sonolência, náusea e mioclonia.
Os
pesquisadores observaram melhora
significativa quanto a impressão global do
paciente e escala de avaliação de sintomas
de Edmonton, quando avaliado pelo escore
integrado MOSS, de maneira que a resposta
positiva dos pacientes que realizaram a
troca de opioides foi evidenciada pela
melhoria dos sintomas relacionados ao uso
das medicações e a redução da dor oncológica.
Referências:
Mercadante S, Lo Cascio A, Adile C, Ferrera
P, Casuccio A. Maddalena Opioid Switching
Score in patients with cancer pain. Pain.
2023 Jan 1;164(1):91-97. doi: 10.1097/j.pain.0000000000002669.
Epub 2022 May 2. PMID: 35500284.
Alerta
submetido em 09/01/2023 e aceito em
09/02/2023.
Escrito por Ana Luiza Martins Costa dos
Santos.
5. Risco de dor crônica em mulheres com dismenorreia
As causas da
dor nociplástica ainda não são totalmente
compreendidas, mas sabe-se que essas dores
advêm da sensibilização do sistema nervoso
central. Os mecanismos são sobrepostos e
interativos e, para explicar melhor,
pesquisadores reuniram um grupo de 201
mulheres com dismenorreia, sem diagnóstico
prévio de dor crônica, para explorar e
verificar se esses sintomas podem ter valor
prognóstico e se há possibilidade dessas
mulheres desenvolverem dor crônica pélvica.
O estudo associou dois grupos de sintomas ao
conceito emergente da dor nociplástica: a
sensibilidade sensorial generalizada e o
grupo SPACE, composto por sono não
reparador, dor, distúrbios afetivos,
problemas cognitivos e energia reduzida.
Foi realizada
uma análise transversal examinando os mesmos
grupos de sintomas nas participantes do
estudo. O objetivo foi determinar se o mesmo
padrão de sintomas era aparente e se estava
associado à presença e gravidade da dor
crônica e, além disso, avaliar se os
contraceptivos orais podem ser usados para
reverter essa condição. Em média, as
mulheres relataram níveis de dismenorreia e
de sintomas pélvicos não menstruais leves e,
uma minoria substancial, apresentavam
sintomas moderados de dor não menstrual. Por
fim, os anti-inflamatórios não esteroidais
apresentaram baixa eficácia para a
sensibilização central e as mulheres com
dismenorreia tem maior vulnerabilidade para
a cronificação da dor.
A dor
nociplástica avaliada em mulheres com
dismenorreia pode ser discernida antes mesmo
do surgimento de dor crônica diagnosticada e
a sintomatologia está associada a dor
elevada, resistente a anti-inflamatórios não
esteroidais durante a menstruação.
Referência:
Schrepf A, Hellman KM, Bohnert AM, Williams
DA, Tu FF. Generalized sensory sensitivity
is associated with comorbid pain symptoms: a
replication study in women with dysmenorrhea.
Pain. 2023 Jan 1;164(1):142-148. doi:
10.1097/j.pain.0000000000002676. Epub 2022
May 10. PMID: 35543649; PMCID: PMC9704354.
Alerta
submetido em 20/01/2023 e aceito em
09/02/2023.
Escrito por Rebeca da Silva Cardoso
6. Efeito da sensibilização à dor em pacientes com osteoartrite de joelho O estudo
revelou aspectos de sensibilização à dor,
função física e qualidade de vida em
pacientes com osteoartrite encaminhados para
artroplastia. A dor é o principal sintoma da
osteoartrite do joelho e um dos principais
contribuintes para o comprometimento
funcional, afetando negativamente aspectos
da qualidade de vida. Foram avaliados dados
de pacientes admitidos para cirurgia de
artroplastia a fim de analisar a
sensibilização à dor por meio de três
conceitos: limiar de dor por pressão, dor
neuropática e dor generalizada.
Foi realizada
uma análise de 249 pacientes com
osteoartrite submetidos a cirurgia de joelho
no Hospital de Singapura, localizado na Ásia
em 2015. Os pacientes receberam
questionários autoaplicáveis que continham
variáveis sociodemográficas (idade, sexo,
raça e escolaridade); comorbidades avaliadas
por índice que identifica a presença de 18
comorbidades gerando pontuação de 0 a 18;
presença ou ausência de dor atual; avaliação
de índice de massa corporal e análise de
radiografias do joelho de rotina para
obtenção de dados sobre a osteoartrite de
joelho desses pacientes.
O grau de
sensibilização à dor na osteoartrite de
joelho está ligado a dor, função e qualidade
de vida dos pacientes. Como limitações,
estudos transversais não permitem
inferências sobre causalidade e não foi
avaliado o impacto da sensibilização à dor
nos pacientes após a artroplastia.
Referência: Aw
NM, Yeo S, Wylde V, et al. Impacto da
sensibilização à dor na qualidade de vida de
pacientes com osteoartrite de joelho. RMD
2022; 8: e001938. doi: 10.1136/rmdopen-2021-001938.
Alerta
submetido em 03/01/2023 e aceito em
03/02/2023. Escrito por Ana Carolina Silva Martins.
7. O efeito de medicamentos anti-inflamatórios na dor em pacientes com artrite
O uso de tofacitinibe e adalimumabe têm efeitos analgésicos em pacientes com artrite reumatóide e artrite psoriática. A artrite reumatoide (AR) e a artrite psoriática (APs) são doenças inflamatórias crônicas que afetam a qualidade de vida. Muitos pacientes com doenças reumáticas continuam a relatar dor residual, apesar do desaparecimento da inflamação provocada pela artrite. Foram analisados pacientes que utilizaram pelo menos uma dose do medicamento do estudo e que alcançaram a anulação da inflamação após 3 meses de tratamento.
Os pacientes com AR ou APs foram aleatorizados para receber tofacitinibe, adalimumabe ou placebo. Os pacientes avaliaram a gravidade da dor da artrite, respondendo: “minha dor neste momento é” usando uma escala visual de 0 (“sem dor’') a 100 (“dor mais intensa”).
Os autores constataram que o tratamento com tofacitinibe e adalimumabe resultou em maior magnitude de redução da dor residual, em comparação com o placebo, e ambos os tratamentos reduziram a dor de forma similar. Como limitações, o estudo analisou dados agrupados de vários ensaios clínicos de duas doenças distintas, o que talvez não permita comparação direta. Os dados evidenciam a necessidade de atuação e pesquisas na área para atendimento das demandas e melhor qualidade de vida aos pacientes.
Referência: Dougados M, Taylor PC, Bingham CO, et alThe effect of tofacitinib on residual pain in patients with rheumatoid arthritis and psoriatic arthritis RMD Open 2022;8:e002478. doi: 10.1136/rmdopen-2022-002478
Alerta
submetido em 03/01/2023 e aceito em
03/02/2023.
Escrito por Ana Carolina Silva Martins.
8. Instrumento de medição sobre a intensidade da dor na demência
Considerando a
alta prevalência de dor em idosos com
demência avançada no Brasil e sua baixa
eficiência de comunicação sobre os seus
sentidos, este artigo propõe a tradução
transcultural do meta-instrumento PIMD (Pain
Intensity Measure for Persons with Demência,
sigla em inglês para Medida de Intensidade
da Dor para Pessoas com Demência).
Atualmente, a
avaliação da dor requer métodos auxiliares
como observar o comportamento sugestivo de
dor, o olhar, a expressão facial, a
linguagem corporal e a vocalização entre
outros. O instrumento se propõe a
interpretar a expressão da dor e sua
intensidade, visto que idosos com demência
moderada a avançada tendem a apresentar
dificuldade em comunicação. O PIMD (Medida
de Intensidade da Dor para Pessoas com
Demência) foi desenvolvido em 2018 com o
objetivo de simplificar a utilização de um
instrumento clínico para avaliação da dor em
pacientes com demência avançada.
O
desenvolvimento do PIMD envolveu um consenso
Delphi e avaliações psicométricas que
incluíram a identificação e a compilação de
pontos de observação comportamental,
pré-existentes, para pessoas com demência.
Incluiu sete itens correlacionados com a
intensidade da dor na presença e a
observação comportamental de sinais de dor.
Por ser um estudo metodológico, de tradução
e adaptação transcultural, seguiu as etapas
de tradução, retro tradução, avaliação por
um comitê de especialistas e fase final de
pré-teste.
Aspectos como
as equivalências adequadas do original e sua
tradução foram respeitados no processo de
tradução e adaptação transcultural e na fase
de pré-teste quando 20 idosos foram
avaliados e selecionados pela classificação
de demência CDR 2, em sua maioria. Obtendo,
como resultado, a validação de conteúdo pelo
processo de adaptação cultural e validade de
face pelo julgamento por comitê de
especialistas. Sendo, o PIMD-p considerado
adequado para ser aplicado no português
brasileiro, exigindo apenas um pequeno tempo
para os profissionais de saúde avaliarem a
presença e intensidade da dor em pacientes
demenciados vulneráveis.
Referência:
Santos, FC, Foraciepe, M and Silva, AEVF.
Translation and cross-cultural adaptation of
the Meta instrument with 7 items to assess
the pain intensity in dementia: “Pain
Intensity Measure for Persons with Dementia
–PIMD”. IOSR Journal of Nursing and Health
Science. Volume 12, Issue 1 Ser. II (Jan.–Feb.
2023), PP 26-30.
Alerta
submetido em 03/01/2023 e aceito em
03/02/2023.
Escrito por Ana Beatriz Costa Bezerra.
9. Causas imunológicas da dor ciática da hérnia de disco lombar
Um estudo
realizado com camundongos em um laboratório
chinês mostrou que o aumento na infiltração
de macrófagos e a ativação da microglia nos
casos de hérnia de disco lombar são fatores
relacionados ao estabelecimento e manutenção
da dor ciática.
A dor ciática
é o foco da prática clínica na maioria dos
casos de hérnia de disco lombar. Essa dor
possui como causa a compressão mecânica das
raízes nervosas causadas pelos discos
herniados. Porém, a inflamação causada por
essa herniação também pode estar associada à
patogênese da dor ciática, por meio do
aumento da sensibilidade nociceptiva.
A fim de
compreender a atuação da microglia e de
macrófagos no início e na manutenção na dor
ciática, foi estabelecido um modelo de
hérnia de disco lombar em camundongos
adultos, utilizando discos intervertebrais
degenerados. Foi realizada análise
histológica dos discos intervertebrais
degenerados e não degenerados em microscópio
por imunoflorescência. Também o
sequenciamento de RNA dos discos, testes
comportamentais de sensibilidade mecânica e
térmica e testes para mensuração de alodinia
e hiperalgesia.
Os principais
resultados encontrados foram que os discos
degenerados apresentam respostas
imunológicas prolongadas e robustas, com
infiltração substancial de macrófagos e
ativação da microglia, o que está
diretamente relacionado com o aumento da dor
ciática, da alodinia mecânica e da
hiperalgesia ao calor. A eliminação da
interação entre macrófagos e microglia com
neurônios sensoriais pode ser um possível
tratamento para a dor lombar induzida pela
hérnia de disco lombar. Porém, ainda são
necessários estudos para elucidar o
mecanismo de atuação dessas células.
Referência: Lu
X, Chen L, Jiang C, Cao K, Gao Z, Wang Y.
Microglia and macrophages contribute to the
development and maintenance of sciatica in
lumbar disc herniation. Pain. 2023 Feb
1;164(2):362-374. doi: 10.1097/j.pain.0000000000002708.
Epub 2022 Jun 7. PMID: 36170151.
Alerta submetido em 09/01/2023 e aceito
em 09/02/2023.
Escrito por Rafaela Silva Motta.
10. Cannabigerol produz efeitos analgésicos em dor inflamatória e neuropática
Um estudo com
camundongos, publicado por pesquisadores
chineses em fevereiro de 2023, demonstrou
que o cannabigerol (CBG), um composto da
Cannabis, possui relevantes propriedades
analgésicas. Os componentes mais estudados
da Cannabis, canabidiol e
tetrahidrocanabinol, possuem efeitos
analgésicos bem conhecidos e já estão em uso
clínico. Esse estudo demonstrou que outro
componente da planta, o CBG, também tem ação
analgésica mediada pela liberação de
opioides endógenos.
O estudo
utilizou modelos de dor inflamatória e dor
neuropática em camundongos. Foram avaliados
parâmetros comportamentais de dor e o
envolvimento de receptores canabinoides e
TRPV1 na ação analgésica. O tratamento com
CBG reduziu os parâmetros de dor nos modelos
estudados. Ensaios in vitro demonstraram que
os efeitos analgésicos podem decorrer da
dessensibilização de receptores TRPV1,
reduzindo a transmissão da dor, e da
ativação de receptor canabinoide CB2, com
consequente liberação de beta-endorfina.
O estudo
evidenciou que o CBG reduz a dor
inflamatória e neuropática devido à
interação com receptores TRPV1 e CB2. Esses
resultados indicam os possíveis efeitos
analgésicos de outros componentes da
Cannabis.
Referência:
Wen Y, Wang Z, Zhang R, et al. The
antinociceptive activity and mechanism of
action of cannabigerol. Biomedicine &
Pharmacotherapy. 2023;158:114163. doi:10.1016/j.biopha.2022.114163
Alerta submetido em 20/04/2023 e aceito
em 28/04/2023.
Escrito por Stephane Silva Santos.
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