Divulgação Científica
1. Canabidiol e a hiperalgesia induzida por opioides
A aplicação
oral de canabinoide (CBD) em estado de
jejum, não induziu nenhum efeito sobre a
hiperalgesia induzida por opioides (HIO).
Estudo no hospital universitário de Basileia,
na Suíça, objetivou mostrar se o canabidiol
alteraria a HIO ou a dor ou a alodinia. A
HIO é um fenômeno bem descrito, que acontece
quando há necessidade de altas doses de
opioide intraoperatório, causando dor
pós-operatória. Além disso, já é evidente
que o CBD é uma substância não psicoativa
com baixo potencial de abuso, com efeitos
colaterais bem tolerados e baixa taxa de
interações medicamentosas. Estudo anterior
demonstrou a habilidade do CBD de aumentar a
antinocicepção em camundongos, sugerindo que
este age como antagonista alpha-1,
diminuindo a influência do glutamato em
receptores NMDA. Considerando que, já é de
conhecimento que a HIO é causada por
sensibilização central através dos
receptores NMDA, tornou-se uma descoberta
interessante para o estudo da HIO.
Nesse estudo
prospectivo e duplo-cego, cada voluntário
recebeu 2 intervenções elétricas de dores
agudas com 2 semanas de diferença entre uma
e outra. Nas duas intervenções os
participantes receberam uma infusão de 30
minutos de ramifetanil, 100 minutos depois
da ingestão de uma dose alta de CBD ou do
placebo. Dor (medida com escala de
estimativa numérica (NRS), hiperalgesia
(medindo a área) e alodinia (medida com swab
seco) eram medidas a cada 10 minutos, além
das aferições de oximetria e do bem-estar do
paciente durante as intervenções.
O uso de CBD
oral em dose única alta não gerou nenhum
efeito na HIO, dor ou alodinia. Faltam
então, alternativas para diminuir a HIO. O
CBD interage com vários receptores que podem
ser modulares de dor, e o estudo de produtos
contendo CBD deve continuar. E antes de
negligenciar o CBD na diminuição das HIO,
deve-se realizar uma pesquisa se
concentrando em formulações de medicamentos
que permitam maiores níveis de drogas após
dose única, como a aplicação intravenosa ou
para indicações as quais a administração
repetitiva seria adequada.
Referência:
Dieterle, M., Zurbriggen, L., Mauermann, E.,
Mercer-Chalmers-Bender, K., Frei, P., Ruppen,
W., & Schneider, T. (2022). Pain response to
cannabidiol in opioid-induced hyperalgesia,
acute nociceptive pain, and allodynia using
a model mimicking acute pain in healthy
adults in a randomized trial (CANAB II).
Pain, 163(10), 1919–1928. https://doi.org/10.1097/j.pain.0000000000002591
Alerta
submetido em 04/11/2022 e aceito em
16/12/2022.
Escrito por
Luíza Beatriz Carvalho Cunha.
2. A dor corporal pode influenciar negativamente ou positivamente o IMC dependendo da idade entre os idosos
O Departamento de Psicologia da Ohio State
University, situado em Columbus, Estados
Unidos, conduziu uma pesquisa longitudinal
sobre as relações bidirecionais entre o
Índice de Massa Corporal (IMC) e dor, em
2021. Dentre os principais achados do artigo
estão a percepção de que a dor pode
contribuir para o aumento e a diminuição do
IMC, dependendo da idade do idoso.
O estudo foi feito em uma amostra de 1.889
participantes entre 40 e 93 anos de idade, e
consistiu em observar por 19 anos as
alterações de dor e de IMC através de
questionários e consultas presenciais. O
resultado mais notável foi a constatação de
que a dor causa um aumento do IMC até os 70
anos de idade, e após os 80 anos, passa a
diminuir. Desta forma, concluiu-se que a
natureza dessa relação entre dor corporal e
IMC pode se alterar de acordo com a idade do
indivíduo em idade mais avançada. Além
disso, houve uma diferença entre os
resultados dos homens e das mulheres, sendo
que a partir dos 80 anos, a dor nos homens
tende a estabilizar, enquanto a dor nas
mulheres continua crescendo de forma linear.
A principal motivação do estudo foi a
escassez de estudos longitudinais sobre esta
temática. O artigo, entretanto, possui
várias desvantagens, como a impossibilidade
de calcular os resultados longitudinais de
algum participante ao longo de toda a faixa
etária, e a exclusão de algumas covariáveis
como doença crônica, nível socioeconômico,
uso de medicamentos e entre outros.
Na perspectiva clínica, essa pesquisa se
mostra fundamental para reforçar a
necessidade de monitoramento do IMC entre os
adultos de meia-idade e idosos,
principalmente entre as pessoas que já
possuem dor nas articulações ou possuem um
histórico na família. O estudo é de grande
relevância para a melhora no tratamento da
dor nas articulações, visto que o IMC é um
importante fator influenciador na dor.
Referências: Emery CF, Finkel D, Dahl Aslan
AK. Bidirectional associations between body
mass and bodily pain among middle-aged and
older adults. Pain. 2022 Oct;163(10):2061-2067.
DOI: 10.1097/j.pain.0000000000002603
Alerta
submetido em 04/11/2022 e aceito em 25/11/2022. Escrito por Maria Clara Alexandroni Cordova de Sousa.
3. A influência da dor crônica na conectividade funcional cerebral
Oito pesquisadores de diferentes
universidades da Eslováquia e Alemanha
verificam através deste experimento, que
pacientes com dor lombar e enxaqueca, ambas
as condições crônicas, possuem uma
conectividade funcional singular e subjetiva
entre as diferentes regiões cerebrais,
quando considerado a intensidade da dor, não
sendo assim possível definir um biomarcador
comum para análise da dor crônica.
Entretanto, reforçam-se os malefícios da dor
crônica, de forma geral, para as funções
corticais.
Neste estudo foram selecionados 40
pacientes, onde metade deste grupo, baseado
nos fundamentos da International Association
for the Study of Pain (IASP), foram
diagnosticados com dor lombar crônica, e a
outra metade, através dos critérios da
Classificação Internacional de Cefaleias, 3ª
edição, obtiveram o diagnóstico de enxaqueca
crônica. Todos os participantes foram
submetidos a quatro sessões de Ressonância
Magnética Funcional (fMRI), com um espaço
temporal mínimo de dois dias entre cada uma.
Durante estas sessões, os pacientes foram
orientados a sinalizar imediatamente na
Escala Visual Analógica e Escala Visual
Numérica, que estavam visíveis a todo o
momento, as variações na intensidade da dor
por meio de um controle deslizante. Após
esta etapa, foram desenvolvidos mapas de
conectividade funcional, tanto individuais
quanto para cada grupo. O objetivo deste
estudo foi identificar padrões de
conectividade cerebral através da
intensidade da dor crônica usando a
abordagem de conectividade funcional de todo
o cérebro.
Em suma, os achados deste estudo fortificam
a subjetividade da percepção da dor, a
relevância do desenvolvimento de planos
terapêuticos personalizados para o paciente
com dor crônica, e ressalva os prejuízos
desta ao sistema funcional cognitivo do
indivíduo.
Referência: Mayr A, Jahn P, Deak B, et al.
Individually unique dynamics of cortical
connectivity reflect the ongoing intensity
of chronic pain. Pain.
2022;163(10):1987-1998. doi:10.1097/j.pain.0000000000002594
Alerta
submetido em 04/11/2022 e aceito em 11/11/2022.
Escrito por Kamila Gonçalves Tortorelli.
4. A urgência de avanços no tratamento da dor em pacientes com transtornos mentais graves
O Departamento
de Psicologia da King’s College London,
situado em Londres, Reino Unido, conduziu um
estudo de revisão sobre dor em pacientes com
doenças mentais graves, em 2021. As
conclusões do artigo mostram a carência de
pesquisas envolvendo essa temática e a
necessidade das equipes de saúde de evoluir
em seus cuidados, isto é, melhorar a
comunicação, promover a inclusão dos
familiares e cuidadores no tratamento e não
subestimar a dor do indivíduo.
As pessoas com
transtornos mentais graves têm uma saúde
física consideravelmente pior, além de terem
maior probabilidade de desenvolver problemas
de saúde físicos com alta carga de dor.
Desta forma, o propósito do artigo foi fazer
uma análise de outros estudos e discutir
possíveis intervenções mais efetivas no
manejo da dor e o que os profissionais de
saúde podem fazer para melhorarem suas
abordagens.
Além dos
pacientes com doenças mentais graves serem
frequentemente excluídos das pesquisas
clínicas, muitos outros minimizam suas
dificuldades devido ao medo de não serem
ouvidos e a preocupação de precisarem de
tratamentos adicionais. Por esse motivo, é
destacado a importância do empenho do
profissional em entender exatamente como seu
paciente se sente.
Há uma
escassez em estudos sobre dor em pacientes
com transtornos mentais graves. As
limitações do artigo foram a exclusão na
análise de algumas doenças importantes que
podem complicar o tratamento da dor, como
ansiedade e transtornos de personalidade.
Considerando as evidências desta revisão, a
pesquisa é de relevância para o incentivo de
outros estudos em busca de abordagens mais
eficazes para o tratamento da dor associado
ao tratamento psiquiátrico.
Referências:
Onwumere J, Stubbs B, Stirling M, et al.
Pain management in people with severe mental
illness: an agenda for progress. Pain.
2022;163(9):1653-1660. doi:10.1097/j.pain.0000000000002633
Alerta
submetido em 02/09/2022 e aceito em 23/09/2022.
Escrito por Maria Clara Alexandroni
Cordova de Sousa.
5. A avaliação da dor intensa durante as trocas de curativos
A incapacidade
de prever dor intensa em um paciente na hora
de realizar a troca de curativo em uma
ferida pode causar estresse tanto no
indivíduo quanto no profissional que irá
executar a técnica. Pensando nisso,
pesquisadores desenvolveram um método
preditor que facilita a criação de
estratégias preventivas de controle da dor
através de um estudo clínico realizado em
Hospitais e Clínicas da Universidade de Iowa,
nos Estados Unidos. Foi desenvolvido um
modelo para prever dor intensa durante as
trocas de curativos nos pacientes e para
desenvolvê-lo foi necessário avaliar fatores
clinicamente acessíveis do paciente e da
ferida.
Para avaliar a
intensidade da dor, foi realizada uma única
troca de curativo em 445 indivíduos e a dor
foi avaliada imediatamente após a troca.
Além disso, foram avaliados fatores
clinicamente acessíveis do paciente e da
ferida, avaliados antes da troca de
curativo, e, por fim, a ingestão de opioides,
avaliada como uma variável de controle. A
dor intensa foi relatada por 127 indivíduos.
Nestes casos, a ferida era aguda e com
duração inferior a 30 dias. Os principais
preditores para a previsão clínica foram o
tipo de curativo, a dor na ferida e a dor
esperada.
A previsão de
dor intensa durante a troca de curativo é
necessária para que haja a possibilidade de
direcionar o paciente para estratégias de
prevenção de dor específicas para o caso
dele. Para isso, é necessário utilizar os
preditores de ferida e dor clinicamente
acessíveis e ouvir os relatos particulares
de cada paciente para melhor avaliar o caso.
Referência:
Gardner, Sue E. a,*; Bae, Jaewon a ; Ahmed,
Bootan Ha ; Abbott, Linda Ib ; Wolf, Jessica
S. a ; Hein, Maria a ; Carter, Cheryl a ;
Hillis, Stephen Lc ; Tandy, LuAnn Ma ; Rakel,
Bárbara A. a . Uma ferramenta clínica para
prever dor intensa durante as trocas de
curativos. DOR: setembro de 2022 - Volume
163 - Edição 9 - p 1716-1727 doi: 10.1097/j.pain.0000000000002553.
Alerta
submetido em 02/09/2022 e aceito em 23/09/2022.
Escrito por Rebeca da Silva Cardoso.
6. A influência da lisofosfatidilcolina na dor articular associada a doenças reumáticas Estudos
clínicos e pré-clínicos realizados por
pesquisadores suecos identificaram os altos
níveis de lisofosfatidilcolina 16:0 (LPC
16:0) no líquido sinovial do joelho como uma
marca registrada de patologias articulares
dolorosas associadas ou não a inflamação. A
parte clínica do estudo analisou 2 coortes
independentes de pacientes, a primeira
composta por 35 pacientes com osteoartrite e
a segunda por 50 pacientes sofrendo de
diferentes doenças articulares dolorosas, em
ambas coortes foram realizadas a coleta de
líquido sinovial do joelho e comparadas com
10 indivíduos controle pós-morte sem
histórico de osteoartrite ou doenças
reumáticas inflamatórias. As duas coortes
analisadas exibiram concentrações
significativamente mais altas de LPC 16:0 em
comparação com as amostras controle. Já a
parte pré-clínica, foi realizada com
camundongos adultos machos e fêmeas que
receberam 2 injeções intra-articulares
consecutivas de soluções salinas contendo
LPC 16:0 para induzir a dor, antes e durante
30 dias após as injeções foram testados seus
limiares de dor mecânica, calor e teste de
suporte de peso.
Além disso,
este estudo também traz evidências em
camundongos e humanos apoiando o papel da
LPC 16:0 via canais iônicos sensor de ácido
3 (ASIC3) na dor crônica articular, já que
os efeitos pró-nociceptivos in vivo de LPC
16:0 são largamente dependentes desses
canais ASIC3 e independente do sexo. A LPC
16:0 ativou ASIC3 de camundongos, humanos e
in vitro, induzindo uma corrente de
despolarização dependente de ASIC3 em
neurônios do gânglio da raiz dorsal de
camundongos.
Assim, os
resultados do estudo sugerem que a LPC 16:0
pode estar envolvida na dor articular de
diferentes etiologias de origem inflamatória
e não inflamatória, principalmente em
doenças musculoesqueléticas reumáticas.
Porém, ainda é necessário demostrar se um
nível elevado de LPC 16:0 poderia ser usado
como um biomarcador objetivo de dor
articular crônica em diferentes etiologias.
Referência:
Jacquot F, Khoury S, Labrum B, et al.
Lysophosphatidylcholine 16:0 mediates
chronic joint pain associated to rheumatic
diseases through acid-sensing ion channel 3.
Pain. 2022;163(10):1999-2013. doi:10.1097/j.pain.0000000000002596
Alerta
submetido em 28/10/2022 e aceito em
16/12/2022. Escrito por Jessica Correia de Oliveira Souza.
7. A endometriose pode causar mudanças crônicas na sensibilidade dolorosa
Um grupo de pesquisa de dor visceral chamado SAHMRI (South Australian Health and Medical Research Institute), localizado no sul da Austrália, conduziu um estudo experimental em camundongos sobre a endometriose, em 2021. Os resultados mostram que os camundongos com endometriose desenvolveram comportamentos relacionados à ansiedade, aumento da sensibilidade a estímulos térmicos e hipersensibilidade nos órgãos viscerais.
A patogênese da endometriose ainda é pouco conhecida, por isso, o objetivo do estudo foi avaliar o desenvolvimento da endometriose e as comorbidades relacionadas a ela, especialmente a dor pélvica crônica, principal sintoma da endometriose, para tentar caracterizar o desenvolvimento da condição.
O experimento consistiu em realizar uma cirurgia para simular a menstruação retrógrada nos camundongos através da inoculação de fragmentos endometriais na cavidade peritoneal, em seguida, é observado o desenvolvimento de lesões a partir de 2 semanas após a cirurgia. Os camundongos foram analisados a partir da coleta de lesões endometriais e líquido peritoneal, a quantidade de mediadores inflamatórios presentes, respostas motoras e sensoriais e outros métodos.
Os camundongos apresentaram mudanças na percepção de dor e hipersensibilidade geral. O ponto negativo foi o aumento nas inconsistências em torno da inflamação na endometriose, pois não foi identificado um padrão nos diferentes estágios da doença. O artigo pode ser de relevância para possíveis pesquisas futuras com o intuito de encontrar um tratamento eficaz, considerando as descobertas deste experimento.
Referência: Maddern J, Grundy L, Harrington A, Schober G, Castro J, Brierley SM. A syngeneic inoculation mouse model of endometriosis that develops multiple comorbid visceral and cutaneous pain like behaviors. Pain. 2022;163(8):1622-1635. doi:10.1097/j.pain.0000000000002552
Alerta
submetido em 05/08/2022 e aceito em
26/08/2022.
Escrito por Maria Clara Alexandroni
Cordova de Sousa.
8. A relação entre estratégias de educação em saúde e autogerenciamento da dor
Um estudo
observacional realizado com pacientes de
todo o mundo, com e sem lombalgia, mostrou
que a intenção de autogerenciamento da sua
dor pode ser útil durante o tratamento da
dor lombar quando associado a métodos de
educação em saúde.
Foram
analisados formulários online de 345
participantes sem ou com lombalgia de
duração variável, sendo maiores de 18 anos e
fluentes em inglês. Os formulários continham
questões demográficas, relacionadas à
atividade física e a presença e
características da dor lombar. Também foi
investigada a intenção e as formas de
autogestão da dor lombar. As habilidades de
autogerenciamento incluem resolução de
problemas, tomada de decisão, planejamento
de ação, auto adaptação e automonitoramento.
Além do
autogerenciamento, o estudo também buscou
investigar as atitudes em relação a
declarações comuns à educação em saúde nos
casos de dor lombar. Foram selecionadas
frases-chave relacionadas ao estímulo a
atividades físicas, ajuda profissional,
incentivo ao autogerenciamento, entre
outros. Para cada frase, o participante
deveria responder, em uma escala de 0 a 6, o
quanto concordava, se era esperada,
tranquilizadora e encorajadora.
Em pacientes
com dor aguda e subaguda, as frases-chave
que mais se caracterizavam como preditoras
da intenção de autogerenciamento foram
aquelas relacionadas à segurança e causas da
dor lombar. Já para os pacientes com dor
crônica, as principais frases preditoras
foram relacionadas a compreensão de que a
lombalgia não é grave e que uma investigação
mais aprofundada é desnecessária.
O principal
achado foi de que as respostas positivas em
relação às frases-chave podem ser
consideradas preditivas de intenção de
autogerenciamento, indicando a importância
da equipe de saúde iniciar a comunicação e a
educação em saúde com o objetivo de promover
o autogerenciamento.
Referências:
O'Hagan ET, Di Pietro F, Traeger AC, Cashin
AG, Hodges PW, Wand BM, O'Neill S, Schabrun
SM, Harris IA, McAuley JH. What messages
predict intention to self-manage low back
pain? A study of attitudes towards patient
education. Pain. 2022 Aug
1;163(8):1489-1496. doi: 10.1097/j.pain.0000000000002530.
Epub 2021 Nov 12. PMID: 34784310.
Alerta
submetido em 05/08/2022 e aceito em 26/08/2022.
Escrito por Rafaela Silva Motta.
9. Heterogeneidade das manifestações clínicas posteriores a infecção pelo novo coronavírus
Um estudo
multicêntrico realizado em Madri (Espanha)
teve por objetivo compreender o
desenvolvimento de dores musculoesqueléticas
em pacientes sobreviventes da Covid-19,
durante a primeira onda de infecção. A
partir de análises univariadas e
multivariadas, foram realizadas associações
entre variáveis como idade, sexo, doenças
preexistentes, sintomas que estavam
presentes durante o período de contaminação
pelo vírus Sars-COV2 com o desfecho de dor
muscular.
Dados obtidos
através de prontuários, bem como de
respostas aos questionamentos a respeito do
quadro clínico de cada paciente antes e após
a sua recuperação, foram utilizados para
análise e compreensão de quais seriam os
fatores de risco associados a manifestação
de dores musculoesqueléticas, bem como a sua
prevalência na amostra em estudo. Além da
verificação de que distúrbios emocionais
também se correlacionavam com a doença e
suas sequelas.
Mediante a
averiguação dos resultados, foi constatado
que 45% dos participantes, anteriormente
infectados com o vírus da Covid-19,
apresentaram tais manifestações dolorosas
após 8 meses passados da alta hospitalar. E
de modo prevalente se apresentaram as dores
generalizadas e dores dos membros
inferiores. Além disso, a ocorrência dos
sintomas estava presente de maneira
preponderante nas situações em o paciente
permaneceu durante um longo período na
unidade de terapia intensiva, em que houve
recorrentes dores generalizadas e dores de
cabeça.
A respeito dos
fatores de risco associados ao
desenvolvimento da dor, assumiu-se que a
presença de comorbidades, grande duração do
tempo de internação, histórico de dor
musculoesquelético, que as mulheres estão
mais suscetíveis a essa expressão de dor e
que possíveis respostas imunológicas
profusas são algumas das variáveis
relacionadas, se observa que as sequelas
desenvolvidas após a infecção pelo novo
coronavírus, especialmente a dor
musculoesquelética, são de origem
multifatorial.
Comentário da
equipe editorial: O presente alerta pôde ter
resultados confirmados com base em outra
publicação: alerta de divulgação científica
publicado durante o mês de outubro, do ano
de 2021, com o título de: Síndrome do COVID
LONGO – dor articular e muscular em
pacientes pós-covid-19.
Referência:
Fernández-de-las-Peñasa,b,*;
de-la-Llave-Rincón, Ana I.um;
Ortega-Santiagoum; Ambite-Quesadaum;
Gómez-Mayordomoc; Cuadrado, María L.c,d;
Arias-Navalón, José A.e; Hernández-Barreraf;
Martín-Guerrero, José D.g; Pellicer-Valero,
Oscar J.g; Arendt-Nielsenb,h. Prevalência e
fatores de risco de sintomas de dor
musculoesqueléticos como sequelas pós-COVID
a longo prazo em sobreviventes
hospitalizados do COVID-19: um estudo
multicêntrico. DOR: Setembro 2022 - Volume
163 - Edição 9 - p e989-e996 doi: 10.1097/j.pain.000000000002564
Alerta submetido em 02/09/2022 e aceito
em 30/09/2022.
Escrito por Ana Luiza Martins Costa dos
Santos.
10. A entrada aferente primária da lâmina X é modulada pré-sinapticamente por outras vias de aferentes primários
As entradas de
aferentes primários da lâmina X são
reguladas por várias vias do trato aferente
e descendente, causando a inibição
pré-sináptica dessa região. Pesquisadores do
Instituto de Fisiologia Bogomoletz (Kyiv,
Ucrânia) constataram que aferentes primários
das vias espinhais e supraespinhais estão
envolvidas no processo de modulação das
entradas aferentes de neurônios de
alto-limiar da lâmina X, confirmando a
participação dessas vias na modulação da
nocicepção dessa região neurológica.
O experimento
foi realizado isolando a região L5 e L4 das
raízes dorsais de medulas espinhais de ratos
e estimulando três áreas diferentes, o
funículo dorsolateral (FDL), o funículo
anterior (FA) e o trato corticoespinal (TCE),
através ferramentas eletrofisiológicas
(fármacos e correntes elétricas). Analisando
os efeitos elétricos desses estímulos,
percebeu-se que a entrada de aferentes
primários para os neurônios da lâmina X são
modulados pré-sinapticamente por essas vias
segmentares e descendentes, sendo FA e TCE
mediados por neurônios glutamatérgicos e FDL
por neurônios glutamatérgicos e GABAérgicos.
Apesar dos
dados coletados sugerirem que os mecanismos
de modulação descendente e segmentares
apresentarem certas diferenças, os
experimentos confirmaram que há uma
participação de várias vias espinhais e
supraespinhais no processo de modulação da
entrada de aferentes primários para os
neurônios da lâmina X.
Referências:
Krotov V, Agashkov K, Krasniakova M,
Safronov BV, Belan P, Voitenko N. Segmental
and descending control of primary afferent
input to the spinal lamina X. Pain.
2022;163(10):2014-2020. doi:10.1097/j.pain.0000000000002597
Alerta submetido em 04/11/2022 e aceito
em 18/11/2022.
Escrito por Jorge Antônio Abreu Ribas.
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