Divulgação Científica
1. O uso de smartphones pode causar dores no pescoço e nos ombros em estudantes universitários
Um estudo
observacional realizado na Jordânia revelou
que a utilização de smartphones por longos
períodos causa dor no pescoço e nos ombros
em estudantes universitários. Este estudo
foi feito entre março e outubro de 2020 com
universitários de diversas áreas. O uso de
smartphones por estudantes tem aumentado em
todo o mundo. Entretanto, seu uso prolongado
exige um longo período de flexão do pescoço,
o que pode causar dor. Por isso, os
pesquisadores do estudo verificaram se o uso
excessivo de smartphones, para estudo ou
para entretenimento, estava associado com a
duração e a gravidade de dores no pescoço e
nos ombros.
Foram
incluídos nesse estudo 867 estudantes
matriculados nas faculdades de medicina,
farmácia, enfermagem e outras. O estudo foi
feito utilizando um questionário online no
qual os próprios estudantes respondiam sobre
o perfil de utilização de smartphones, sua
relação com a dor e se o participante tinha
histórico de dor. Os pesquisadores
verificaram que o tempo de uso de
smartphones está associado com a intensidade
e duração da dor. A maioria dos
participantes relatou dor moderada a grave.
Além disso, foi observado que a dor acomete
mais mulheres e estudantes que utilizavam o
celular sentados.
O uso
prolongado de smartphones em universitários
pode causar dor no pescoço e nos ombros,
sendo a gravidade e duração desta dor
possivelmente associada a períodos longos de
flexão do pescoço. Apesar do estudo ter
avaliado apenas estudantes universitários,
ele traz um importante alerta sobre os
riscos do uso excessivo de smartphones
associado a uma postura incorreta.
Referência:
Maayah MF, Nawasreh ZH, Gaowgzeh RAM,
Neamatallah Z, Alfawaz SS, Alabasi UM. Neck
pain associated with smartphone usage among
university students. PLoS One.
2023;18(6):e0285451. Published 2023 Jun 23.
doi:10.1371/journal.pone.0285451
Alerta
submetido em 06/09/2023 e aceito em
10/09/2023.
Escrito por
Laís Peres Silva.
2. A cetamina como fármaco adjuvante no tratamento da dor crônica
Um grupo de estudos da Universidade
Tiradentes, em Sergipe, no Brasil, realizou
uma revisão integrativa sobre a utilização
da cetamina em pacientes com dor crônica e
seu impacto na epidemia do uso de opioides,
entre agosto e outubro de 2022. Os
principais achados do estudo foram os
benefícios comprovados do uso da cetamina em
pacientes com dor crônica neuropática e com
hiperalgesia induzida por opioides. Para a
revisão, foram utilizados 16 estudos
publicados entre 2017 e 2022, de variados
idiomas, contendo as palavras-chave
“cetamina e dor crônica”, “opioides e
efeitos adversos”, entre outras.
A cetamina é um antagonista do receptor
N-metil-D-aspartato (NMDA) para glutamato.
Portanto ocupa os receptores impedindo que
outros ligantes possam se ligar, evitando
seus efeitos. Assim o fármaco possui efeito
anestésico geral e analgésico. O estudo
trouxe evidências de que a cetamina auxilia
no tratamento da hiperalgesia induzida por
opioides, que é um dos principais efeitos
adversos destes fármacos, causado pelo
aumento da dose por tempo prolongado.
Os dados reunidos acerca dos efeitos da
cetamina na revisão são relevantes
principalmente para o tratamento de dor
neuropática, quando associado ao uso de
opioides. Espera-se manter o efeito
terapêutico desejado evitando as altas
dosagens de opioides e consequentemente,
evitando a maior parte dos efeitos
indesejados.
Referência: Lima, JVS, DF Silva, LF
Linhares, MA Menezes e CCP de Faro. “Os
benefícios Do Uso Da Cetamina Em Pacientes
Com Dor Crônica, Na Atual Crise Do Abuso De
Opioides”. Revista Brasileira de Revisão de
Saúde, vol. 6, n. 2855-70, doi:10.34119/bjhrv6n1-224.
Alerta
submetido em 25/08/2023 e aceito em
14/09/2023. Escrito por Maria Clara Alexandroni Cordova de Sousa.
3. A visão ajuda a modular a sensibilidade do sistema nociceptivo
A visão desempenha um papel importante ao
modular a sensibilidade do sistema
nociceptivo. Em 2022, um estudo mostrou que
pessoas com cegueira de origem periférica
ocorrida no primeiro ano de vida apresentam
limiares de detecção mais baixos para
estímulos de calor e frio, bem como limiares
de dor mais baixos, em comparação com
participantes com visão. O cérebro analisa e
utiliza informações nociceptivas para
localizar potenciais danos ao corpo também
padronizadas pela visão.
A dor é frequentemente descrita como uma
percepção resultante da interpretação do
cérebro de um padrão de atividades
decorrentes de diferentes fibras nervosas.
Os estudos relataram que as pessoas cegas
congênitas estão mais atentas aos sinais de
dor na vida quotidiana, e que a incerteza
sobre um estímulo potencialmente doloroso
iminente poderia torná-las mais ansiosas, o
que consequentemente aumentaria a dor.
A função protetora da nocicepção depende de
sua capacidade de interagir com a visão. As
pessoas cegas são capazes de processar
informações espaciais de outras modalidades
sensoriais, como oposição dos estímulos
auditivos no espaço externo e criar um mapa
de seu ambiente espacial.
Referência: Legrain V, Filbrich L,
Vanderclausen C. Letter on the pain of blind
people for the use of those who can see
their pain. Pain. 2023 Jul
1;164(7):1451-1456. doi: 10.1097/j.pain.0000000000002862.
Epub 2022 Dec 23. PMID: 36728808.
Alerta
submetido em 25/08/2023 e aceito em
08/09/2023.
Escrito por Sara Oliveira Quadros.
4. Fibromialgia e estilo de vida estressante
Nesta
meta-análise sugere-se que não há consenso
para a associação entre síndrome de
fibromialgia com estressores. Os dados de 47
estudos foram revisados e encontrou-se
inconsistência de resultados. Este estudo
alemão, iniciado em 2021, foi realizado na
Universidade de Heidelberg com o objetivo de
revisar e meta-analisar as atuais evidências
e explorar se a presença de fibromialgia
está associada a um padrão específico de
desregulação dos eixos responsáveis pela dor
e pelo estresse.
Foram
incluídos nessa meta-análise 1465 indivíduos
com síndrome de fibromialgia e 1192
controles (sem a síndrome), a maioria da
amostra era composta por mulheres. Os
biomarcadores de estresse analisados
revelaram alto conflito entre a relação da
síndrome de fibromialgia com o estilo de
vida estressante.
Essa
descoberta impacta diretamente na ideia de
associação entre estresse como causa da
síndrome. Algumas limitações apresentadas na
pesquisa foram a maior parte dos estudos
serem experimentais e a incoerência dos
resultados.
Referência:
Beiner E, Lucas V, Reichert J, et al. Stress
biomarkers in individuals with fibromyalgia
syndrome: a systematic review with
meta-analysis. Pain. 2023;164(7):1416-1427.
doi:10.1097/j.pain.0000000000002857
Alerta
submetido em 25/08/2023 e aceito em
01/09/2023.
Escrito por Emanuelle Lorraine Nolêto das
Neves.
5. Canabinoides podem aliviar dor de cabeça crônica
Artigo de
revisão revela mitos e verdades a respeito
do uso de canabinoides no tratamento da dor
de cabeça crônica. Os achados deste estudo
indicam evidências positivas, explicadas
pela compreensão do sistema endocanabinoide,
e de suas propriedades e mecanismos de ação
no sistema nervoso central e periférico.
Atualmente, existe receio no uso de
canabinoides devido a falsas crenças sobre a
sua segurança, há, no entanto, estudos
transversais randomizados; retrospectivos e
observacionais que demonstram redução na
frequência e intensidade de enxaqueca com
uso da cannabis medicinal.
O estudo se
baseou em 64 artigos publicados e
selecionados das bases de dados PubMed e
Google Scholar. E demonstrou, com base em um
extenso levantamento de dados, que o uso de
cannabis inalada é capaz de reduzir a
gravidade das dores de cabeça e enxaqueca em
aproximadamente 50%. Isso se dá pela ampla
distribuição do sistema canabinoide no
sistema nervoso central e periférico, agindo
em funções reguladoras fisiológicas como
plasticidade sináptica, nocicepção e dor,
regulação do estresse e emoção. Esse sistema
atua por meio dos receptores CB1 e CB2, e,
em cooperação com outros alvos moleculares
presentes em circuitos maiores de dor, como
endorfinas e o sistema inflamatório.
A enxaqueca é
a segunda principal causa de incapacidade a
nível mundial, afetando mais de 10% da
população. No Brasil, a prevalência de
enxaqueca é de aproximadamente 15,2%, sendo
mais frequente no sexo feminino. Nesse
contexto, a cannabis é utilizada para o
tratamento de dor crônica e cefaleia, com
benefícios a curto e longo prazo, e eficácia
na redução da ingestão diária de
analgésicos, da dependência e da intensidade
da dor. Portanto, os canabinoides são
considerados efetivos para dores de cabeça,
e podem ser uma boa alternativa frente à
ineficiência ou intolerância a medicamentos
convencionais. Contudo, devem ser utilizados
com cautela em pacientes com histórico de
abuso de substâncias; uso de sedativos ou
hipnóticos; doença renal; hepática; doença
cardiopulmonar grave, e doenças
psiquiátricas. Além disso, devem ser
evitados para mulheres com risco de gravidez
ou lactantes.
Referência:
Santiago NM, Lima YM. Chronic headache and
cannabinoids use: myths and truths. Cefaleia
crônica e uso de canabinoides: mitos e
verdades. BrJP. São Paulo. 2023; Suppl
Cannabis. DOI 10.5935/2595-0118.20230027-em
Alerta submetido em 25/08/2023 e aceito em
01/09/2023.
Escrito por Victoria Rodrigues de Sousa
dos Santos.
6. Estudo no Japão identifica que moscas de frutas podem controlar a dor por meio de mecanismo próprio Cientistas da
Universidade de Tsukuba, no Japão,
descobriram que as moscas de fruta possuem
mecanismos cerebrais de controle da dor.
Este estudo, publicado em junho de 2023,
identificou que uma proteína produzida por
esses insetos é capaz de controlar a
transmissão da dor por meio de um mecanismo
de inibição descendente, até aqui
considerado exclusivo de animais mais
evoluídos. Nesse mecanismo, sinais que são
gerados no cérebro inibem a transmissão dos
sinais de dor dos nervos periféricos.
Em modelo
animal inusitado, utilizando drosophilas
(nome científico do gênero de moscas de
fruta) geneticamente modificadas, os
pesquisadores submeteram esses insetos a
diferentes modelos experimentais de dor.
Eles utilizaram testes de sensibilidade
térmica e uma técnica microscópica que mede
o nível de cálcio celular. Os principais
achados identificaram que as moscas que não
apresentavam a proteína Drosulfaquinina eram
mais sensíveis ao calor e o seu neurônio
central tinha maior entrada de cálcio,
mecanismo fisiológico associado à atividade
neuronal nos animais. Este neuropeptídeo é
semelhante a uma proteína humana que possui
a mesma função de modular a sinalização da
dor.
Sendo assim,
apesar de serem animais simples, sugere-se
que as moscas podem controlar sua sensação
de dor por meio de um mecanismo próprio.
Esse estudo pode contribuir para a maior
compreensão dos mecanismos de modulação da
dor no sistema nervoso central e trazer
novas perspectivas para o tratamento da dor
crônica.
Referência:
Oikawa I, Kondo S, Hashimoto K, et al. A
descending inhibitory mechanism of
nociception mediated by an evolutionarily
conserved neuropeptide system in Drosophila.
Elife. 2023;12:1-29. doi:10.7554/elife.85760.3
Alerta
submetido em 10/10/2023 e aceito em
10/10/2023. Escrito por Renata de Oliveira Gomes.
7. Educação em neurociência e a percepção da dor
Pesquisadores da Bélgica realizaram um ensaio clínico randomizado duplo-cego no Breast Centre, localizado em Leuven, que buscou comprovar a maior efetividade da educação sobre neurociência da dor em comparação com a educação biomédica. Os desfechos analisados neste estudo foram: incapacidade relacionada à dor, intensidade da dor, nível de atividade física e funcionalidade emocional, sendo que em nenhum deles identificou-se os resultados esperados pelo estudo, ou seja, não houve diferença importante entre os desfechos analisados entre os grupos intervenção e controle.
Esse estudo contou com a participação de 184 voluntárias que foram diagnosticadas com câncer de mama primário e passaram por cirurgia oncológica mamária. Elas foram divididas igualmente em 2 grupos, ambos com acompanhamento de fisioterapia padronizado e individualizado, mas um grupo recebia informações biomédicas sobre dor, enquanto o outro recebia informações com base na neurociência da dor. O acompanhamento foi feito ao longo de 18 meses, sendo que nos 4 primeiros meses (fase intensiva) eram realizadas sessões semanais de fisioterapia, seguido de sessões de acompanhamento nos meses 6, 8 e 12. As sessões educativas ocorreram 6 vezes ao longo do estudo, presenciais ou remotas, sendo 3 sessões durante a fase intensiva e as outras nos meses 6, 8 e 12. Ao longo do estudo, foram coletados dados referentes à incapacidade relacionada à dor, sintomas e características da dor, e funcionamento emocional. A partir disso, os resultados indicaram que não houve diferença entre os desfechos entre os grupos do estudo.
Com isso, algumas hipóteses foram traçadas pelos autores do porquê dos resultados insatisfatórios da pesquisa, como o estresse pós-operatório prejudicando o processo de ressignificação da dor e a maior aceitação social de informações biomédicas. Os autores recomendam que futuras pesquisas sobre educação em neurociência da dor devam realizar abordagem individualizada ao paciente.
Referência: Dams L, Van der Gucht E, Devoogdt N, et al. Effect of pain neuroscience education after breast cancer surgery on pain, physical, and emotional functioning: a double-blinded randomized controlled trial (EduCan trial). Pain. 2023;164(7):1489-1501. doi:10.1097/j.pain.0000000000002838
Alerta
submetido em 25/08/2023 e aceito em
29/09/2023.
Escrito por Gustavo Lee Minari.
8. Catastrofização da dor de crianças com doença falciforme e de seus pais
Um estudo
realizado por pesquisadores da Universidade
Estadual da Geórgia nos Estados Unidos, com
crianças diagnosticadas com doença
falciforme e seus pais, apontou que a
catastrofização da dor (ampliação de
percepções negativas à ameaça de dor),
influencia negativamente a Qualidade de Vida
Relacionada à Saúde (QVRS) das crianças. Os
resultados foram obtidos por meio de
questionários e foram analisados com base em
modelos de destino comum, modelo de
interdependência ator-parceiro e escala
likert. Assim, o principal objetivo do
estudo foi examinar a didática da relação da
catastrofização da dor das crianças e a
catastrofização dos pais e seus efeitos na
QVRS.
Foram
selecionadas 100 duplas de pais e crianças
entre 8 e 18 anos. Os dados foram obtidos
por meio da quantificação da frequência da
dor, aplicação de um questionário de 13
perguntas pertencentes a escala de
catastrofização da dor pediátrica reportada
pela criança e a escala de catastrofização
da dor reportada pelo pai/mãe acerca das
percepções sobre pensamentos negativos e a
dor da criança. Além disso, aplicou-se o
módulo de Qualidade de Vida Pediátrica sobre
Doença Falciforme, que caracteriza 42 itens
que avaliam 9 dimensões da qualidade de vida
associadas à doença falciforme. Os modelos
de destino comum e interdependência
ator-parceiro apontaram que nos níveis
individuais das duplas, havia efeitos
pequenos a médios de impacto na QVRS.
As análises
sugerem que tanto a catastrofização da dor
dos pais como a dos filhos tem impacto
negativo significativo na QVRS infantil em
pacientes com doença falciforme.
Referência:
Shih S, Donati MR, Cohen LL, Shneider C, Sil
S. A dyadic analysis of parent and child
pain catastrophizing and health-related
quality of life in pediatric sickle cell
disease. Pain. 2023 Jul 1;164(7):1537-1544.
doi: 10.1097/j.pain.0000000000002848. Epub
2022 Dec 20. PMID: 36645172.
Alerta
submetido em 25/08/2023 e aceito em
08/09/2023.
Escrito por Ana Carolina Teles Marçal.
9. O papel dos canabinoides na analgesia e outros sintomas de neuropatias
Uma revisão de
literatura recente buscou correlacionar a
neuropatia dolorosa e o uso de canabinoides
como estratégia de tratamento. A amostra,
que contou com artigos publicados entre 2004
e 2022, trouxe que os canabinoides têm se
mostrado uma alternativa possível para
tratamento da dor neuropática (DN) e outros
sintomas associados à neuropatia.
A DN é
consequência direta de doença ou lesão que
afete o sistema somatossensorial, ocorrendo
principalmente em pessoas diabéticas, idosos
e pessoas que passaram por tratamento
quimioterápico. Atualmente, o tratamento da
DN é baseado em identificar causas
reversíveis e promover controle dos
sintomas. No entanto, há limitações
relacionadas aos fármacos de escolha,
principalmente quanto aos efeitos adversos,
com alta taxa de intolerância e
refratariedade dos sintomas. Como tratamento
farmacológico de primeira linha, estão os
moduladores dos canais de cálcio, em segunda
linha estão os antidepressivos tricíclicos e
os inibidores duais da recaptação de
norepinefrina e serotonina, e terceira
linha, os opioides e os fármacos tópicos.
Estudos
recentes demonstram que o THC, um
fitocanabinoide, pode auxiliar no aumento do
efeito analgésico de opioides, atuando em
receptores opioides e na síntese e liberação
de opioides endógenos. Investigações sobre a
utilização dos canabinoides vêm sendo
indicadas para utilização nos sítios de ação
analgésica, principalmente na medula
espinhal, no cérebro e nas áreas
periféricas, referentes a DN e dor
sistêmica.
Os
canabinoides têm se mostrado tratamento
potencial para a dor e outros sintomas
associados a DN, como alterações de sono e
distúrbios do humor. Porém, há limitações
nos estudos desses fármacos: relacionadas às
diversas vias de administração, falta de
padronização de concentrações, pouco tempo
de acompanhamento nos estudos clínicos e
estudos com número de participantes
reduzido.
Referência:
Sabo HW, Baptista AG. Neuropatias e o uso de
canabinoides como estratégia terapêutica.
BRJP. 2023;6(s1). doi:10.5935/2595-0118.20230012-pt
Alerta submetido em 25/08/2023 e aceito
em 02/09/2023.
Escrito por Rafaela Silva Motta.
10. Base da dor inflamatória relacionada à plasticidade neural
Estudos
realizados na Universidade Hebraica de
Jerusalém, revelam uma nova descoberta para
entender a hipersensibilidade à dor.
Utilizando abordagens comportamentais,
imuno-histoquímicas, eletrofisiológicas e
computacionais com camundongos foi possível
caracterizar a plasticidade do segmento
inicial do axônio relacionado à inflamação
nos neurônios superficiais (lâmina II) do
corno dorsal da medula espinhal e
estabelecer como a plasticidade neste local
regula a atividade dos neurônios da lâmina
II, contribuindo assim para a
hipersensibilidade à dor.
Foi
demonstrado que, em condições sem
inflamação, os segmentos iniciais axonais
dos neurônios inibitórios da lâmina II estão
localizados mais próximos do corpo celular
do neurônio do que os neurônios excitatórios.
Essa mudança de localização e excitabilidade
dos segmentos iniciais dos axônios é
seletiva e reversível para neurônios
inibitórios. Foi relatado também que os
segmentos iniciais axonais retornam para
perto do corpo celular dos neurônios, e a
excitabilidade dos neurônios inibitórios da
lâmina II aumenta para níveis basais após a
recuperação da hiperalgesia inflamatória.
Tais alterações na arquitetura da região
demonstram alterar a excitabilidade neuronal
e, assim, sintonizar a saída da rede.
Entretanto, sua contribuição para a
atividade dos neurônios da medula espinhal e
sistema nervoso supraespinhal e dor ainda
não foi determinada.
Os resultados
demonstraram que a entrada do sinal de dor
na medula espinhal mediada pela inflamação
dos neurônios nociceptivos primários pode
desencadear mudanças diferenciais na
excitabilidade intrínseca dos neurônios do
sistema nervoso central, ajustando assim a
resposta geral da rede neural para sinalizar
sobre uma lesão em andamento.
Referência:
Caspi, Yakia,b; Mazar, Michaela,b; Kushnir,
Yishaia,b; Mazor, Yoava,b,c; Katz, Bena,b;
Lev, Shayaa,b; Binshtok, Alexander M.a,b,*.
Structural plasticity of axon initial
segment in spinal cord neurons underlies
inflammatory pain. PAIN 164(6):p 1388-1401,
June 2023. | DOI: 10.1097/j.pain.0000000000002829
Alerta submetido em 21/07/2023 e aceito
em 28/07/2023.
Escrito por Anne Karollyne Alves da
Silva.
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