DOL - Dor On Line

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP

Universidade de Brasília - Campus de Ceilândia
Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto - USP
Faculdade de Farmácia - Universidade Federal da Bahia

Principal    |    Editoriais    |    Edições    |    Sobre a Dor    |    Glossário    |    Projeto DOL    |    Publicações    |    Contato

   
 

Alerta da edição mensal

 


Será que o ser humano é capaz de controlar a sua percepção de dor?

Gabriela Oliveira Gonçalves

 

Um estudo conduzido pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade da Califórnia, em São Francisco (UCSF), demonstrou que os padrões de ativação neural de um indivíduo permanecem estáveis ao antecipar a dor em situações de incerteza. Esse padrão contrasta com os efeitos conhecidos da expectativa positiva, que pode reduzir a dor e induzir analgesia placebo, e da expectativa negativa, que tende a amplificar a dor e gerar resposta nocebo.

 

A hipótese central do estudo previa que regiões como a ínsula anterior e o estriado ventral desempenhariam papéis cruciais na antecipação da dor. Para testá-la, 147 participantes foram recrutados entre 2008 e 2011 por meio de folhetos, sites (como Craigslist), jornais locais e indicações. Do total, 57 pertenciam ao grupo controle (sem histórico de transtornos mentais) e 90 apresentavam diagnóstico atual ou passado de condições psiquiátricas — todos sem dor crônica.

 

Os participantes foram submetidos a um protocolo experimental que envolvia a aplicação de estímulos térmicos dolorosos no antebraço esquerdo, com duas intensidades previamente calibradas (baixa e alta). Cada tentativa era precedida por um período de antecipação de 10 segundos, iniciado por uma dica visual, seguido por 7 segundos de estímulo doloroso e um intervalo de descanso de 24 a 30 segundos. Além das dicas que indicavam dor alta ou baixa, uma terceira imagem foi usada para induzir incerteza sobre a intensidade da dor.

 

A análise dos dados revelou que a forma como os indivíduos antecipam a dor influencia diretamente sua percepção. Mesmo diante da incerteza, os padrões neurais de antecipação se mantiveram consistentes, sugerindo que o cérebro pode adotar uma estratégia estável de resposta a estímulos ambíguos.

 

Esses achados destacam a importância de considerar os viéses antecipatórios no contexto clínico, especialmente em pacientes com histórico psiquiátrico. A forma como a dor é antecipada pode interferir na avaliação diagnóstica e no sucesso terapêutico. Assim, os autores recomendam que futuras pesquisas explorem mais profundamente as interações entre cronobiologia, emoção e expectativa no manejo da dor.

 

Referência: Strigo IA, Kadlec M, Mitchell JM, Simmons AN. Identification of group differences in predictive anticipatory biasing of pain during uncertainty: preparing for the worst but hoping for the best. Pain. 2024;165(8):1735-1747. doi:10.1097/j.pain.0000000000003207