Um estudo
conduzido pelo Departamento de Psiquiatria
da Universidade da Califórnia, em São
Francisco (UCSF), demonstrou que os padrões
de ativação neural de um indivíduo
permanecem estáveis ao antecipar a dor em
situações de incerteza. Esse padrão
contrasta com os efeitos conhecidos da
expectativa positiva, que pode reduzir a dor
e induzir analgesia placebo, e da
expectativa negativa, que tende a amplificar
a dor e gerar resposta nocebo.
A hipótese
central do estudo previa que regiões como a
ínsula anterior e o estriado ventral
desempenhariam papéis cruciais na
antecipação da dor. Para testá-la, 147
participantes foram recrutados entre 2008 e
2011 por meio de folhetos, sites (como
Craigslist), jornais locais e indicações. Do
total, 57 pertenciam ao grupo controle (sem
histórico de transtornos mentais) e 90
apresentavam diagnóstico atual ou passado de
condições psiquiátricas — todos sem dor
crônica.
Os
participantes foram submetidos a um
protocolo experimental que envolvia a
aplicação de estímulos térmicos dolorosos no
antebraço esquerdo, com duas intensidades
previamente calibradas (baixa e alta). Cada
tentativa era precedida por um período de
antecipação de 10 segundos, iniciado por uma
dica visual, seguido por 7 segundos de
estímulo doloroso e um intervalo de descanso
de 24 a 30 segundos. Além das dicas que
indicavam dor alta ou baixa, uma terceira
imagem foi usada para induzir incerteza
sobre a intensidade da dor.
A análise dos
dados revelou que a forma como os indivíduos
antecipam a dor influencia diretamente sua
percepção. Mesmo diante da incerteza, os
padrões neurais de antecipação se mantiveram
consistentes, sugerindo que o cérebro pode
adotar uma estratégia estável de resposta a
estímulos ambíguos.
Esses achados
destacam a importância de considerar os
viéses antecipatórios no contexto clínico,
especialmente em pacientes com histórico
psiquiátrico. A forma como a dor é
antecipada pode interferir na avaliação
diagnóstica e no sucesso terapêutico. Assim,
os autores recomendam que futuras pesquisas
explorem mais profundamente as interações
entre cronobiologia, emoção e expectativa no
manejo da dor.
Referência:
Strigo IA, Kadlec M, Mitchell JM, Simmons AN.
Identification of group differences in
predictive anticipatory biasing of pain
during uncertainty: preparing for the worst
but hoping for the best. Pain.
2024;165(8):1735-1747. doi:10.1097/j.pain.0000000000003207