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Alerta da edição mensal

 

 

O sucesso do tratamento depende da expectativa?

Aline Frota Brito

 

Uma pesquisa realizada entre 2021 e 2022 no University Medical Center Hamburg-Eppendorf, na Alemanha, demonstrou que a crença dos participantes pode influenciar diretamente no alívio da dor. O estudo consistiu em um ensaio clínico randomizado com dois grupos: um acreditava estar recebendo um spray nasal que poderia conter fentanil (um potente analgésico), enquanto o outro sabia que o spray não continha o medicamento. O objetivo foi avaliar a resposta analgésica após um estímulo doloroso.

 

A amostra foi composta por 77 participantes saudáveis, em sua maioria mulheres, com média de idade de 24 anos. Todos foram informados sobre o objetivo do estudo e avisados de que poderiam sentir uma leve sensação de queimação no nariz como efeito colateral. Utilizaram o spray nasal três vezes, acreditando que havia 50% de chance de que um deles contivesse fentanil. No entanto, todos os sprays continham apenas capsaicina — um composto natural que provoca sensação de ardência, mas sem efeito analgésico direto.

 

O grupo que acreditava estar recebendo fentanil relatou níveis de dor significativamente mais baixos do que o grupo que sabia que o spray não continha o medicamento. Além disso, os participantes que receberam o placebo ativo continuaram a relatar alívio da dor até sete dias após a intervenção. Exames de ressonância magnética funcional revelaram aumento do acoplamento entre o córtex cingulado anterior rostral (rACC) e a substância cinzenta periaquedutal (PAG) — regiões cerebrais associadas à modulação da dor e às emoções.

 

Esses achados sugerem que efeitos colaterais leves podem funcionar como um “sinal” de que o tratamento está fazendo efeito, reforçando as expectativas positivas e potencializando a resposta analgésica. O estudo destaca a importância de uma comunicação científica clara e baseada em evidências, pois a forma como as informações são apresentadas pode influenciar significativamente a percepção e os resultados clínicos dos pacientes.

 

Referência: Schenk LA, Fadai T, Büchel C. How side effects can improve treatment efficacy: a randomized trial. Brain. 2024;147(8):2643-2651. doi:10.1093/brain/awae132