A dor é um
sintoma que está presente em muitas doenças
e representa um dos principais motivos que
levam as pessoas a buscarem atendimento nos
serviços de saúde. Apesar disso, os
profissionais da saúde enfrentam
dificuldades para o controle adequado da
dor, que é feito principalmente por métodos
farmacológicos. Os medicamentos mais
utilizados atualmente para o controle da dor
são analgésicos como opioides e dipirona, e
anti-inflamatórios não esteroidais.
Entretanto, esses medicamentos possuem
limitações na eficácia analgésica e produzem
efeitos indesejados que podem prejudicar a
saúde e qualidade de vida dos pacientes,
principalmente quando utilizados em doses
elevadas e por tempo prolongado. Esse
cenário reforça a demanda por novas terapias
para o controle da dor.
Uma possível
alternativa para o manejo da dor é o uso de
práticas integrativas e complementares (PICs)
com finalidade de auxiliar a terapia
farmacológica. As PICs possuem respaldo
legal no Brasil, sendo parte da Política
Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (PNPIC), que prevê sua oferta
à população de forma integral e gratuita
pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A PNPIC
engloba 29 procedimentos de PICs e tem como
objetivo integrá-los às terapias
tradicionais. As PICs incluem: fitoterapia,
yoga, meditação, homeopatia, hipnoterapia,
musicoterapia, aromaterapia, entre outras.
Dentre essas, uma das terapias com maior
aceitação e investimento é a aromaterapia,
por conta do baixo custo, eficácia bem
documentada e poucos efeitos indesejados
[1,2,3].
A aromaterapia
se baseia nas propriedades dos óleos
essenciais, concentrados voláteis extraídos
de vegetais, para tratamento de doenças e
promoção da saúde física e mental. Essa
abordagem terapêutica não é recente, tendo
origem no Egito e Índia há milhares de anos,
quando era associada com a fitoterapia [2].
O termo foi cunhado pelo cientista francês
Gattefossé em seu livro "Aromatherapy”,
publicado em 1936. Os óleos essenciais podem
ser administrados de forma tópica, oral ou
inalatória - sendo a via inalatória a única
aprovada no Brasil – como adjuvantes no
tratamento da dor crônica, ansiedade,
estresse, bronquite, hipertensão, distúrbios
do sono, entre outros. Entre essas
indicações, o uso dos óleos essenciais para
redução da dor crônica é um dos mais
frequentes. Isso pode decorrer da alta
prevalência das síndromes de dor crônica, de
seu perfil debilitante e da falta de opções
terapêuticas para seu adequado controle.
Dessa forma, a aromaterapia vem se tornando
cada vez mais popular na clínica da dor. Por
outro lado, apesar da aromaterapia ser uma
prática terapêutica antiga da humanidade,
seus benefícios e propriedades são
frequentemente questionados, e não há um
consenso na literatura científica sobre sua
eficácia. Afinal, aos olhos da ciência, a
aromaterapia é eficaz com analgésico?
Essa é uma
pergunta de difícil resposta, considerando
que a literatura científica sobre esse tema
mostra resultados contraditórios. Um estudo
em idosos com dores crônicas, mostrou que
massagem realizada com uso tópico dos óleos
essenciais, produz efeitos analgésicos.
Entretanto, não houve diferença entre o
grupo que recebeu apenas a massagem e aquele
que recebeu massagem com o óleo essencial,
sugerindo que o efeito analgésico observado
está principalmente relacionado à massagem
em si [4]. Os efeitos da aromaterapia
associada a massagem com óleos essenciais
foram investigados também na dismenorreia,
que é a dor relacionada à menstruação. Em um
estudo clínico, a aromaterapia associada à
massagem com os óleos essenciais reduziu a
dor em mulheres com dor menstrual [5]. Seus
benefícios podem ser explicados por ativação
olfativa-hipocampal inibindo a dor, apesar
desse mecanismo ainda não ser bem
caracterizado. Esse estudo indica que a
aromaterapia associada a massagem é benéfica
no controle da dismenorreia, um tipo de dor
muito prevalente e incapacitante.
A dor
oncológica é outro tipo de dor de difícil
tratamento, já que possui diversas causas e
mecanismos subjacentes. É uma dor
multifatorial que inclui domínios físicos e
psicológicos, sendo concomitante aos
sintomas oncológicos somados aos efeitos
adversos dos antineoplásicos. Inúmeros
estudos clínicos já foram conduzidos para
avaliar os benefícios da aromaterapia em
pacientes com dor oncológica. Uma revisão
sistemática com meta análise, publicada em
2023, analisou 12 estudos clínicos no tema,
e concluiu que o uso de óleos essenciais é
eficaz na redução da intensidade da dor
associada ao câncer. A aromaterapia reduz
também a ansiedade, indicando benefícios
consistentes para pacientes com dor
associada ao câncer [6].
Os impactos da
aromaterapia sobre a dor pós-operatória
também vêm sendo investigados. O
pós-operatório é um período crítico que
envolve sintomas debilitantes como náuseas,
limitações físicas, desconforto e dor. A dor
pode prolongar o processo de cicatrização e
o tempo de hospitalização, sendo prejudicial
para o paciente e aumentando o custo
hospitalar. Um estudo clínico investigou os
efeitos da inalação de óleo de eucalipto na
dor e nas respostas inflamatórias após
cirurgia de artroplastia total do joelho. Os
pacientes inalaram óleo de eucalipto por 30
minutos em 3 dias consecutivos. A
aromaterapia com óleo de eucalipto diminui a
intensidade da dor e a pressão arterial dos
pacientes hospitalizados, indicando que pode
ser uma intervenção eficaz para o alívio da
dor no pós-cirúrgico [7]. A aromaterapia já
foi investigada também em cirurgias
específicas como a cesariana. Um estudo
clínico randomizado e controlado por placebo
foi conduzido com 60 gestantes submetidas à
cesariana. O tratamento consistiu na
inalação de óleo essencial de Lavanda após o
início da dor pós-operatória, 4, 8 e 12
horas depois. As pacientes que inalaram óleo
essencial de Lavanda tiveram menor dor
pós-operatória, menor consumo de
analgésicos, diminuição da frequência
cardíaca e maior nível de satisfação com a
analgesia em relação ao grupo placebo [8].
A aromaterapia
também já foi objeto de estudo de ensaios
clínicos em partos naturais. A literatura
mostra que a aromaterapia reduz a
intensidade da dor e necessidade de
analgesia durante o trabalho de parto [9,
10].
Nas dores
crônicas músculo esqueléticas, os resultados
da aromaterapia são ainda inconclusivos.
Estudos em dores crônicas de joelho, ombro e
pescoço demonstraram potencial efeito
analgésico e aumento da qualidade de vida de
pacientes tratados com aromaterapia. Por
outro lado, esses estudos possuem, em sua
maioria, limitações metodológicas que
impedem conclusões definitivas sobre a
eficácia e segurança da aromaterapia nessas
condições [11].
Em conclusão,
a aromaterapia pode ser considerada uma
prática integrativa e complementar
promissora para o tratamento da dor de
diversas origens. Enquanto os benefícios
para alguns tipos de dor já possuem maiores
evidências científicas, como na dor
oncológica e pós cesariana, em outros tipos
ainda são necessários mais estudos, como é o
caso das dores crônicas músculo
esqueléticas. Ensaios clínicos mais
criteriosos e bem delineados devem aumentar
o nível de evidência sobre a segurança e
eficácia da aromaterapia no controle da dor.
É importante ainda ressaltar que apesar da
aromaterapia induzir efeito analgésico
significativo, essa abordagem terapêutica
precisa ser utilizada concomitantemente com
a terapia medicamentosa e com acompanhamento
de um profissional de saúde.
Referências:
[1] Cooke
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[2]
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12 de maio de 2024.
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* Aluno de
graduação – iniciação científica/extensão -
UFBA
** Professora Associada - UFBA