A laserterapia
consiste em uma alternativa terapêutica com
radiação eletromagnética, que proporciona a
estimulação celular produzindo efeitos
biológicos, químicos e físicos1,2.
Divide-se em dois tipos, o laser de alta
intensidade, utilizado para fins de
procedimentos cirúrgicos e o laser de baixa
intensidade para fins terapêuticos. Nessa
técnica, a estimulação celular é feita pela
ativação dos fotorreceptores do tecido
liberando energia para a célula local e
propagando para as vizinhas. Tem sido
demostrado que o laser ativa mecanismos
anti-inflamatórios, analgésicos, reparação
cicatricial, entre outros efeitos2,3.
Com base nessas propriedades, sua aplicação
se tornou uma alternativa para o tratamento
de doenças inflamatórias e dor. De fato,
durante as últimas três décadas, muitos
estudos mostraram que a terapia a laser de
baixa intensidade tem efeitos positivos no
tratamento de várias doenças, que cursam com
dor e processos inflamatórios4,5.
Uma das
técnicas de laserterapia de baixo nível é a
irradiação intravascular do sangue com laser
ou laser-ILIB (do inglês intravascular laser
irradiation of blood). Surgiu na década de
1970, inicialmente para o tratamento de
doenças cardiovasculares, e consiste na
aplicação contínua e direta de laser
terapêutico vermelho na circulação sanguínea6,7.
Com os avanços tecnológicos, a técnica
passou a ser realizada de maneira não
invasiva, denominado ILIB modificado, pela
aplicação do laser vermelho sobre a artéria
radial de forma transdérmica7,8.
A aplicação é feita pela conexão do laser a
uma pulseira acoplada em um dos punhos do
paciente irradiando na artéria radial.
Trata-se de uma técnica indolor, não
invasiva e sem efeitos colaterais descritos,
que vem sendo considerada uma opção
terapêutica segura e eficaz, especialmente
para tratar doenças sistêmicas,
inflamatórias, dores crônicas e alterações
de cicatrização9,10. Os
mecanismos pelos quais o laser-ILIB produz
seus efeitos terapêuticos parecem ser
associados a ações antioxidantes e
anti-inflamatórias, além de efeitos sobre a
hemorreologia. A estimulação local da
hemácia com o laser promove a síntese de
adenosina trifosfato (ATP), principal forma
de energia química da célula, e da enzima
antioxidante superóxido dismutase (SOD) que
neutraliza os radicais livres superóxidos,
extremantes lesivos ao organismo, reduzindo
os processos oxidativos deletérios do corpo11,5.
Além disso, modula os níveis de citocinas e
de fatores de crescimento e promove aumento
da oxigenação tecidual12. Os
efeitos anti-inflamatórios do ILIB são
atribuídos ainda à inibição da produção de
prostaglandinas inflamatórias. Além disso, o
laser ILB tem ação vasodilatadora e
antiagregante plaquetária pela produção de
prostaciclinas e oxido nítrico, permitindo
maior fluidez do sangue. Por fim, melhora a
hemorreologia, facilitando o fluxo
sanguíneo, aumentando a oxigenação dos
tecidos, absorção de exsudatos e reduzindo
edemas13,14.
O potencial
terapêutico do laser ILIB em síndromes
crônicas de dor tem sido evidenciado em
estudos clínicos15,16,17. Um
estudo em mulheres com fibromialgia,
demonstrou que o tratamento com laser ILIB
diminuiu a intensidade da dor em todas as
pacientes e reduziu a formação do potencial
de ação no nervo periférico, reduzindo a
transmissão dos impulsos gerados nos
nociceptores para a medula espinal. Além
disso, o tratamento com ILIB, induziu
melhora significativa da qualidade de vida
nessas pacientes.
Um estudo
clínico18, controlado,
randomizado, prospectivo e intervencionista,
avaliou a eficácia do ILIB no alívio da dor
e na melhoria da qualidade de vida em
pacientes com dores na região
temporomandibular. Os participantes do grupo
ILIB apresentaram valores significativos de
redução da dor, medidos pela escala
analógica visual (EVA) e exame físico dos
pontos álgicos. Além disso, não foram
identificadas evidências de efeitos
colaterais. Um outro estudo19
clínico, controlado, randomizado,
prospectivo, e intervencionista, avaliou a
eficácia do ILIB no alívio da dor e na
melhoria da qualidade de vida em pacientes
com dores ocasionadas por neuropatia
diabética. Os participantes da pesquisa do
grupo ILIB apresentaram melhora
significativa para todas as variáveis do
questionário de qualidade de vida e maior
alívio da dor, em relação aos participantes
do grupo controle.
Os mecanismos
envolvidos na analgesia do laser ILIB
parecem depender de ações tanto no sistema
nervoso periférico quanto central, inibindo
mediadores químicos causadores de dor e
estimulando a liberação de beta-endorfinas,
que inibem a transmissão da dor e produzem
sensações de relaxamento e bem-estar9,11.
Também tem sido proposto que o ILIB ameniza
os processos inflamatórios por reduzir a
liberação de mediadores como prostaglandinas
e leucotrienos, o que também contribui para
seu efeito analgésico.
Existem poucas
contraindicações para uso da terapia ILIB,
dentre elas estão os pacientes portadores de
marca passo, aqueles com histórico de câncer
em fase ativa, glaucoma, gravidez e
fotossenssibilidade13. Além
disso, alguns padrões de segurança para a
aplicação do ILIB devem ser respeitados,
como o uso de óculos de proteção para o
terapeuta e para o paciente, seguindo as
regras de biossegurança para evitar lesão
nos olhos e contaminação10,20.
Considerando
esse bom perfil de segurança, aliado aos
resultados de eficácia nas triagens clínicas
é possível propor que a terapia com laser
ILIB pode representar um bom adjuvante no
controle das síndromes crônicas de dor. Em
função do baixo custo e segurança, essa
terapêutica é compatível com o Sistema Único
de Saúde, SUS, e poderá ter como benefício a
redução do consumo de analgésicos e
anti-inflamatórios para o controle da dor,
reduzindo efeitos adversos e melhorando a
qualidade de vida dos portadores de dores
crônicas.
Referências:
1. Haley
D, Pratt O. Basic Principles of Lasers.
Elsevier. 2017.
2. Lins
RDAU, Dantas EM, Lucena KCR, Catão MHCV,
Granville-Garcia AF, Neto LGC. Efeitos
bioestimulantes do laser de baixa
potência no processo de reparo. Revisão.
An. Bras. Dermatol. 85 (6). Dez 2010.
3.
Pinheiro ALB, Almeida PF, Soares LGP.
Princípios fundamentais dos lasers e
suas aplicações. In: Biotecnologia
Aplicada à Agro&Indústria - Vol. 4. São
Paulo: Blucher, 2017.ISBN:
9788521211150, DOI
10.5151/9788521211150-23.
4.
Konoplya AA, Gavrish SA, Konoplya AI,
Loktionov AL. Primenenie vnutrivennogo
lazernogo oblucheniya krovi v korrektsii
immunnykh narushenii u patsientok s
khronicheskim endometritom. Vopr
Kurortol Fizioter Lech Fiz Kult.
2016;93(5):19-22. Russian. doi:
10.17116/kurort2016519-22. PMID:
27801407.
5. Silva
RWT. Laserterapia. Cap:06, 2013. Doi:10.7436/2013.anac.06
6. Mester
E, Mester AF, Mester A. The biomedical
effects of laser application.
7. Lasers
Surg Med 5: 31-39, 1985.
8. Hamblin
MR. Mechanisms and Mitochondrial Redox
Signaling in Photobiomodulation.
Photochemistry and Photobiology, 2018,
94: 199–212.
9. Vieira
FL. Desenvolvimento De Dispositivo
Portátil Para Irradiação Extravascular A
Laser Do Sangue – Elib Device.
Dissertação do Programa de Pós-Graduação
em Processos Tecnológicos e Ambientais
da Universidade de Sorocaba, 112f. São
Paulo, 2019.
10.
KazemiKhoo N, Iravani A, Arjmand M,
Vahabi F, Lajevardi M, Akrami S et al.
(2013) Um estudo metabolômico sobre o
efeito da irradiação sanguínea a laser
intravascular em pacientes diabéticos
tipo 2. Lasers Med Sci 28:1527–1532.
11.
KazemiKhoo N, Ansari F. Blue or red:
which intravascular laser light has more
effects in diabetic patients?. Lasers in
Medical cience volume 30, pages363–366,
2015.
12. Wu, P.
Y. et al. Effects of Intravenous Laser
Irradiation of Blood on Pain, Function
and Depression of Fibromyalgia Patients.
Gen. Med., Los Angeles, v. 6, p. 1,
2018. DOI: 10.4172/2327-5146.1000310.
Disponível em: https://www.longdom.org/abstract/effects-of-intravenous-laser-irradiation-of-blood-onpain-function-and-depression-of-fibromyalgia-patients-25055.html.
Acesso em: 12 set. 2019.
13. Gomes
CF, Schapochnik A. O uso terapêutico do
LASER de Baixa Intensidade (LBI) em
algumas patologias e sua relação com a
atuação na Fonoaudiologia. Distúrb Comun,
São Paulo, 29(3): 570-578, setembro,
2017.
14.
Kazemi-Khoo N. Tratamento bem sucedido
de úlceras de pé diabético com terapia a
laser de baixa intensidade. Foot 16:
184-187, 2006.
15.
Cavalcanti TM, Almeida-Barros RQ, Catão
MHCV, Feitosa APA, Lins RDAU.
Conhecimento das propriedades físicas e
da interação do laser com os tecidos
biológicos na odontologia. An Bras
Dermatol. 2011;86(5):955-60.
16.
Tomimura S, Silva BPA, Sanches IC, Canal
M, Consolim-Colombo F, Conti FF, Angelis
K, Chavantes MC. Hemodynamic Effect of
Laser Therapy in Spontaneously
Hypertensive Rats. Brief Communication.
Arq. Bras. Cardiol. 103 (2) Aug 2014.doi.org/10.5935/abc.20140117
17. Tomé
RFF, Silva DFB, Neves GV, Rolim AKA,
Santos CAO, Gomes DQC. ILIB (irradiação
laser intravascular de sangue) como
terapia adjuvante no tratamento de
pacientes com doenças sistêmicas
crônicas - uma revisão integrativa da
literatura. Published online: 12 july,
2020.
18. Schulz
M, Rogalski VC; Yamashita RK.
Laserterapia “ILIB” na Odontologia:
Revisão de Literatura. JNT- Facit
Business and Technology Journal. 2021.
Julho. Ed. 28. V. 1. Pag. 321-350.
19. Karu
T. Mecanismos primários e secundários de
ação de radiação visível a infravermelho
próximo em células. J Photochem
Photobiol B: Biol 49: 1-17, 1999.
20. Catão
MHCV, Oliveira PS, Costa RO, Carneiro
VSM. Avaliação da eficácia do laser de
baixa intensidade no tratamento das
disfunções têmporo-mandibular: estudo
clínico randomizado. Rev. CEFAC 15 (6),
2013.
21. Leal
MVS, Lima MO, Nicolau RA, Carvalho TMT,
Abreu JAC, Pessoa DR, Arisawa EALS.
Efeito da irradiação transcutânea a
laser modificada na dor e na qualidade
de vida em pacientes com neuropatia
diabética. Fotobiomodulação,
fotomedicina e cirurgia a laser. V.38,
N.3, 2020.
22. Silva
RCD, Pires FM, Filho GAF, Arantes APF,
Dias R, Cabral RMC. Influence Of Laser
Therapy On Pain And The Quality Of Life
In Women With Fibromyalgia. Revista
Univap – revista.univap.br São José dos
Campos-SP-Brasil, v. 20, n. 36, 2014.
ISSN 2237-1753.
* Aluna de
mestrado - UFBA - PPGFAR
** Aluno de doutorado - FIOCRUZ - PGBSMI